quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dúvida sobre especiação

Na
de resposta elaborada por Walter Neves para uma pergunta sobre a fertilidade
em híbridos: “O isolamento reprodutivo só ocorre quando os sistemas de
reconhecimento de parceiros são modificados e muitas vezes esses sistemas
são mediados por comportamentos ou estímulos químicos muito sutis.” Como
sou professor de biologia no ensino médio, estranhei a resposta, que poderia
dar a entender (...) que apenas existiriam mecanismos de isolamento reprodutivo
que fossem comportamentais (etológicos). Como o autor da resposta não cita
outros tipos de isolamento reprodutivo pré-copulatórios possíveis (isolamento
estacional, de hábitat, mecânicos) e nem pós-copulatórios (mortalidade de
gametas, do zigoto, inviabilidade do híbrido e esterilidade do híbrido), o leitor
poderia ter uma visão incompleta sobre o assunto.
Walter Neves, autor do texto citado, responde: “Muito oportuna a observação
(...). Sempre que temos muita limitação de espaço, as respostas são incompletas,
claudicantes. Ao se referir a outros mecanismos de isolamento reprodutivo (précopulatórios
e pós-copulatórios), o professor Eduardo está absolutamente certo,
desde que se levem em consideração outros modelos de especiação que não o de
‘espécie por reconhecimento’, proposto por Hugh Paterson em 1985, uma revolução
em relação ao modelo antes predominante, de ‘espécie por isolamento’,
proposto (...) desde os anos 30 por Ernst Mayr e Theodosius Dobzhansky (1900- 1975) e repleto de contradições lógicas.
O modelo tradicional (...) diz que o grosso do isolamento reprodutivo é fixado quando as populações ‘irmãs’ são instadas à alopatria [separação física], muito provavelmente por fatores geográficos. Alguns autores (...) começaram a identificar uma grande inconsistência lógica nesse modelo: como a seleção poderia fixar ‘isolamento reprodutivo’ entre dois conjuntos separados (as duas populações irmãs), se não estão em contato? Mayr e Dobzhansky deram respostas distintas. Para Mayr, (...) os mecanismos de isolamento fixados seriam apenas subprodutos da seleção agindo sobre outros setores da vida do organismo. Para Dobzhansky, o isolamento reprodutivo propriamente dito só seria fixado quando as populações irmãs, antes em alopatria, são postas de novo em simpatria, através de um fenômeno que chamou de ‘reforço secundário’ (...). O trabalho de Paterson (...) restaurou a qualidade lógica nesse contexto. Para ele, o que a seleção fixa quando as duas populações irmãs estão em alopatria são mecanismos distintos de reconhecimento de parceiros específicos em cada uma e não ‘isolamento reprodutivo’ de uma em relação à outra. Pode parecer uma diferença apenas semântica, mas não é! Como muito bem enfatizou Paterson em seu artigo, seleção natural age sobre ‘reprodução’ e não sobre ‘não-reprodução’.
É o fato de a seleção aperfeiçoar a cada dia mais o reconhecimento de parceiros em cada uma das populações irmãs em alopatria que leva ao isolamento reprodutivo entre elas. No modelo tradicional, portanto, ‘isolamento’ é o fulcro do processo, enquanto no modelo de Paterson ‘isolamento’ é apenas subproduto do processo. (...)”
[Resposta à Carta de leitor publicada em CH 206 – julho/2004]


CH nº 202, de março, encontrei na seção ‘O leitor pergunta’ o seguinte trecho

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